segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Mega incêndio na Volkswagen

Memória – Mega incêndio na Volkswagen
Em 18 de dezembro de 1970, um incêndio de grandes proporções irrompeu na ala 13 das instalações industriais da Volkswagen do Brasil, no km 23 da Via Anchieta, em São Bernardo do Campo.

Foto
: Área delimitada em amarelo foi totalmente destruída - 300 m x 100 m; 30 m de altura, 03 andares
Como era a Ala 13
Área construída;
Compreendia; 300 metros de comprimento, 100 de largura e 30 de altura. Constituía o maior pavilhão coberto para fins industriais da América do Sul.
No primeiro andar;
Funcionava o departamento de estoque de materiais para tapeçaria, espuma de borracha, nylon, algodão, guarnições de borracha, tapetes.
No segundo andar;
Funcionava uma parte do setor de pintura e um depósito com 30 mil pneus aproximadamente. .
No terceiro andar;
Funcionava o setor de pintura e tapeçaria onde estavam instaladas as máquinas pesadas. Na ala 13, havia muitos tanques de solventes e ácidos.

Inicio do incêndio
Quando o incêndio começou,às 7h 45 min da manha, a unidade de bombeiros da Volkswagen tentou controlar o incêndio. Alguns minutos depois, os bombeiros constataram que o fogo estava cada vez mais forte e solicitaram socorro ao Corpo de Bombeiros de São Bernardo.
Os bombeiros da Volks eram considerados bem treinados pelo Corpo de Bombeiros. Por isso, quando estes foram chamados, sabiam que devia ser mesmo um grande incêndio.
Corpo de Bombeiros
O alarme soou e saiu a primeira guarnição composta: nove soldados, um homem de válvula, um motorista, comandado por um sargento.
Depois, saíram mais três caminhões: estavam em ação os 50 homens do quartel. Além dos bombeiros em serviço, foram chamados os que estavam de licença ou de férias, através de uma estação de rádio. Imediatamente foram para o quartel.

Testemunha do inicio do incêndio
Exatamente às 8 h 10 min faltou luz no prédio. Começara o incêndio que o funcionário Ivan José Marcolino da Rocha, da seção de pintura descreve assim;
- Eu estava no 2o andar trabalhando na pintura de automóveis, quando faltou luz. Então, eu e alguns colegas fomos para o banheiro, fumar um cigarro, a espera que a luz voltasse.De repente subiu um operário gritando que o prédio estava pegando fogo. Todos descemos, correndo pelas várias escadas. Éramos uns quatro mil, entre nós, 200 mulheres na seção de tapeçaria, saímos todos do prédio. O fogo estava no começo, deu tempo e ninguém ficou ferido.

Reforços - Bombeiros
Chegaram mais reforços de São Caetano, Santo André, Santos e São Paulo.
Os corpos de bombeiros das fábricas próximas também participaram da operação: a Chrysler, a Mercedes-Benz, a Ford e a Karman-Ghia mandaram todas as suas guarnições.
O Corpo de Bombeiros de São Paulo despachou pa­ra Volkswagen;
- Oito viaturas autobombas, cinco carros-pipas e uma jamanta.
- As viaturas autobombas transportam quatro mil litros de água e podem lançar de 750 a 1.000 litros de água por minuto.
- Os carros-pipas levam 9.000 litros, as jamantas levam 18.000 litros.

As operações
No combate as chamas foram utilizadas aproximadamente 1.000 bombeiros que revezaram em turnos. Indústrias de automóveis vizinhas colocaram a disposição da Volkswagen todas as suas ambulâncias e médicos.

Abastecimento de água
O reservatório de incêndio da fábrica tinha capacidade de 15 mil metros cúbicos, mas os bombeiros utilizaram também água transportada por caminhões-pipas da Policia Militar, da Petrobrás, da Rhodia e das Prefeituras da região e dos canais da represa Billings.

Propagação do fogo – Desabamentos sucessivos
À medida que o fogo se alastrava, a ala 13 desabava. Nas imensas paredes de concreto de aproximadamente 50 metros de largura caíam a intervalos mais ou menos regulares, com ruído estrondoso.Eram 12h 40min, quando, finalmente desabou o último setor, onde estava os tanques de solventes. Embora grande parte destes já tivesse sido desviada para o riacho próximo, elevando-se uma nuvem branca, reativando o fogo quando este parecia dominado. Chamas de 50 metros de altura subiam entre os escombros.

Risco de explosão
Centenas de bombeiros fazem o rescaldo do incêndio e resfriam um deposito com 50 mil litros de thinner e acetileno que, se explodir, destruirá tudo num raio de 500 metros.
Para resfriar o deposito, dois helicópteros da FAB sobrevoaram o local do incêndio durante todo o dia, atirando sacos plásticos com gelo seco e outras substâncias químicas.

Fim do incêndio
Na tarde de 20 de dezembro, a chuva forte que caiu sobre a cidade conseguiu apagar as chamas do grande incêndio.
Apesar do trabalho de dezenas de guarnições do Corpo de Bombeiros que consumiram cerca de três milhões de litros d'água, as chamas ainda continuavam a queimar restos de pneus, tapetes e matérias-primas, quase 60 horas depois.
O trabalho maior está sendo feito por 4 gigantescos guindastes na remoção dos destroços.

Emergência médica
Cerca de quinze ambulâncias do Hospital das Clinicas, do Hospital Militar e de hospitais particulares estacionaram perto da fábrica, para transportar feridos.

Feridos
Cerca de 200 pessoas sofreram ferimentos, a maioria, leves e intoxicações . A maioria foi tratada no ambulatório da fábrica. Médicos e enfermeiros dos hospitais locais foram à fábrica para ajudar.

Feridos mais graves
Os hospitais de São Bernardo, Santo André e São Caetano estão cuidando de, aproximadamente, 50 feridos, a maioria com fratura:, escoriações, queimaduras ou simplesmente intoxicado.
Os casos mais graves, como o do coronel Anor Augusto Pereira, chefe da Segurança Industrial da Volkswagen, que teve uma perna amputada, foram transferidos pa­ra o Hospital Militar, Modelo, e das Clínicas , em São Paulo,

Controvérsias Vítimas fatais
Segundos os jornais foram 30 mortes, porém de acordo com comunicado oficial da Volkswagem, de 22 de dezembro, apenas um funcionário morreu. O funcionário era bombeiro da Karmann-Ghia, um dos primeiros a chegar ao local do incêndio (a Karmann-Ghia dista 4 km da Volkswagen).Segundo o comunicado da Volkswagen encontra-se hospitalizados, exigindo maiores cuidados médicos apenas dois funcionários.

Comunicado oficial Volkswagen do Brasil distribuída em 20 de dezembro de 1970;
Foi extinto o incêndio que irrompeu na Volkswagem do Brasil.Uma das alas de produção teve 70% de suas instalações destruídas. Foram grandemente prejudicadas as instalações de pintura, tapeçaria e um setor de cabos elétricos.
Houve grandes prejuízos materiais, principalmente quanto o material de estofamentos, pneus e peças de carroçarias. Já foi dado inicio aos trabalhos de remoção dos escombros.
A Volkswagen do Brasil espera que seja possível reiniciar a produção de veículos em fevereiro, pelo menos em parte.
Não correspondem aos fatos as notícias divulgadas pela imprensa sobre mortos e feridos. Até o momento, constatou-se a morte de uma pessoa, ferimentos graves em duas pessoas e várias outras pessoas com ferimentos leves.A
Volkswagen do Brasil serve-se dessa oportunidade para transmitir o seu agradecimento a todos os Corpos de Bombeiros que participaram no trabalho de extinção do incêndio, impedindo, graças a um trabalho corajoso, que o fogo se alastrasse a outras instalações.Além disso, a Volkswagen do Brasil agradece a todas as firmas e autoridades o exemplar apoio oferecido e toda a ajuda recebida.

Causas prováveis;

Primeira. hipótese:
Um funcionário do setor de manutenção estaria trabalhando com uma furadeira elétrica no último andar do prédio. Uma fagulha teria saltado e atingido um pedaço de estopa embebido em thinner (um solvente para tintas). Daí, o fogo teria se alastrado para um tambor desse mesmo solvente que explodindo teria provocado o incêndio de outros depósitos, onde estavam armazenadas grandes quantidades de outras substâncias altamente inflamáveis.

Segunda hipótese
Um funcionário do setor de manutenção estaria soldando no primeiro andar do prédio. Uma fagulha, da mesma forma, teria saltado e caído sobre um monte de espuma de nylon, penetrando até atingir o algodão usado para os estofamentos. Um bombeiro teria conseguido apagar o fogo inicial do nylon, mas, quando as chamas atingiram o algodão, a fumaça deixou os bombeiros sem visão, obrigando-os a fugir. Esta é a hipótese mais aceita.

Terceira hipótese:
Um curto circuito nas instalações elétricas. Essa é a hipótese menos aceita, pois alguns engenheiros que participaram da construção da ala 13 garantem que isso é praticamente impossível de ter acontecido. As instalações elétricas foram inauguradas recentemente, e seu sistema de funcionamento não permite esse tipo de acidente.

Lucros Cessantes – Interrupção de produção
Somente em agosto de 1971, a Volkswagen do Brasil poderá voltar à sua produção normal de veículos (1.200 unidades por dia), embora deva reiniciar a fabricação em janeiro de 1971, com 500 carros/dia.

Minimização e conseqüências da interrupção de produção
1- A ultramoderna seção de pintura que es­tá sendo fabricada pela Durr. da Alemanha, para instalação na matriz, em Wolfsburg, poderá ser deslocada para o Brasil, o que diminuiria sensivelmente o prazo necessário à reconstrução;
2-É muito provável que a Volks de São Bernardo do Campo continue a produzir veículos, a partir da segunda quinzena de janeiro de 71, depois das férias coletivas. Isto seria possível, devido ao equipamento de pintura ainda existente na fábrica-2 (antiga Vemag) e aos aparelhos que até alguns meses atrás ainda eram utilizados pela ala-13.
3- A produção da Volks passará a 800 carros/dia em março de 1971;
4- Os pedidos aos fornecedores serão reduzidos, mas “em limites suportáveis";
5- É quase inevitável o câmbio-negro de Volks, porque os revendedores não têm condições de atender a demanda;
6- O Sindicato de Autopeças já tomou todas as providencias para enfrentar a situação, inclusive pensando em financia­mento às firmas que enfrentarem maiores problemas. É bem provável que mais de 100 pequenas indústrias, fabricantes de autopeças e acessórios para veículos sejam também prejudicadas e se vejam obrigadas a demitir muitos de seus funcionários.
7- Indústria e comércio do ABC estão seria­mente preocupadas com as conseqüências da paralisação da Volks e poderá provocar uma crise que somente será equacionada com o restabelecimento da produção normal da fábrica.

Funcionários da fábrica
Cerca de 23 mil operários entraram em férias coletivas antecipa­das, devido ao incêndio.
A fabrica cogita dispensar cerca de 2.000 operários recentemente contratados.

Reconstrução
Estima-se que as obras da reconstrução deverão durar de três a seis meses.

Seguro
A empresa dispõe de cobertura total de seguro para danos materiais, inclusive cobertura parcial de lucros cessantes;

Prejuízos
Cerca de US$ 210.600.000,00 (R$ 600.253.077,00) em valores correntes.
O prejuízo na época foi de Cr$ 200 milhões (US$ 41 milhões dólares)

Conclusão da Volkswagen sobre o incêndio:
- Por eliminação, prevalece uma só causa para o incêndio; um curto circuito nos estoques de estofados, material de fácil combustão, porque feito à base de borracha, espuma e plástico;
-O fogo atingiu rapidamente as instalações anexas: estoque de pneus e a seção pintura, que emprega o processo eletroforese, único na América Latina;
-A área atingida compreende 30 mil m2 de construção (três pavimentos), de um total de 404 mil m2 da área total da fábrica;

Fontes: Jornal da Tarde, O Estado de São de Paulo e Folha de São Paulo no período de 19 de dezembro a 22 de Dezembro de 1970

Um comentário:

Rafael Zanerati disse...

Tenho um Fusca 1969; o parachoque dele veio original de fábrica como sendo do novo modelo de 1970. Acredito que essa alteração no meu Fusca venha desse incêndio, pelo fato de não terem mais as peças do 1969 (que queimaram) eles acabaram montando os carros restantes com as peças de 1970. Se tiverem mais alguma informação sobre esse assunto gostaria muito de receber para que eu possa agregar essa história em meu carro.